Soulbound: Por que não consigo jogar algumas coisas fora.

Escrevendo o último texto, sobre presentear alguém, fiquei pensando em um conceito que carrego na vida e, já tendo explicado algumas vezes as pessoas, resolvi transcrevê-lo

(Sim, soulbound é um termo nerd de um jogo, mas é só um gancho)

(Não, não é uma desculpinha pra justificar o motivo do meu quarto ser bagunçado.)

Sou um cara um tanto quanto desapegado a coisas materiais. Não é nem um tipo de iluminação, nem socialismo, nem faço parte do movimento hippie. Não tenho em mim o ímpeto do consumo, talvez por não ter muito acesso as coisas enquanto crescia, talvez por ser sempre muito preocupado com grana, não sei. Sem neuras, também:gasto minha grana basicamente com comida e considero isso um bom investimento.

Como exemplo posso citar ir pro Paraguai com uma quantidade x de dólares, comprar só dois canivetes de um vendedor de rua e dar o resto pra minha irmã gastar. Ou na volta de um intercâmbio de trabalho, 80% das coisas que comprei foram maquiagem, camisetas, tênis, blusas e ipod pra minha ex, mãe e irmã (pra mim, comprei duas camisetas do wall mart, um tênis pra substituir o meu que furou na viagem e blusa/calça/luva pra praticar snowboard).

Esse desapego se estende pra basicamente qualquer uma de minhas posses, sempre empresto coisas, já perdi a conta de quantas vezes tirei minha blusa pra emprestar pra alguém com frio (as vezes até minha camiseta, pra namorada, apesar do físico de boto-cor-de-rosa), chinelos, jogos. Livros? Quando compro, leio e logo passo pra frente, empresto e se não voltar, que a pessoa também passe pra frente.

Mas existe uma restrição. Quando a coisa foi feita pela pessoa (tipo cachecol), usada pela pessoa (tipo a pulseira-de-todo-dia ou uma camiseta), trazida de lugares distantes (moeda de outro país, arte de rua)… E dedicatórias, em cds/livros/dvds/cartões/fotos, a maior fonte desse efeito. Quando me dão coisas com algo escrito, a mão mesmo naquela caligrafia bizarra, meus olhos chegam a brilhar.

Dedicatórias tem o poder de transformar qualquer coisa em um item [Soulbound], que em tradução livre significa “ligado a alma”, e no jogo faz com que o item não possa ser trocado com outros jogadores. Perceba, eu não deixo de saber da existência do valor monetário real das coisas, mas elas se ligam a mim.

 

 

Meu livro de cálculo caro-e-útil? Ok, pega ai e tira xerox, se quiser pode ficar com ele emprestado pra usar no primeiro ano, se não devolve, se perder fica de boa, foda-se.

O livrinho do Hagar que minha priminha coloriu com lápis de cor e escreveu “te amo josia” atrás? NEM FODENDO.

Leave a comment